sexta-feira, 14 de abril de 2023

Sagração da Igreja de Santo António de Vagos

 in jornal Correio do Vouga de 18 de Junho de 1971, n° 2051

Santo António de Vagos

Esta Igreja está construída para durar séculos. Oxalá que as gerações que vieram depois sejam dignas da geração que lhes tão eloquente, testemunho de fé e de União fraterna de uns com os outros - afirmou o Bispo de Aveiro na Sagração do novo templo.

Hoje é dia de festa em Santo António de Vagos, a freguesia criada pelo meu saudoso antecessor Dom João Evangelista de Lima Vidal e desmembrada da de Vagos em 1956. Ficou desde então a servir de igreja paroquial a modesta acanhada capela, que hoje já não existe. Na sua vez e em parte no mesmo lugar em que se encontrava implementada a velha capela, foi erguida pelo povo desta freguesia a igreja paroquial, que hoje inauguramos pela Sagração litúrgica do altar e do espaço sagrado que o fica a envolver.

Características da nova igreja:

A Igreja que hoje inauguramos pode ser definida com três adjetivos: bela, sóbria e funcional.

Concebida segundo os cânones clássicos da arquitetura dos templos sagrados há nas suas linhas, harmonia, dignidade, equilíbrio.

É bela! É só sóbria também como convém à maneira de sentir da gente de hoje. Sóbria na decoração, no desenho das peças sagradas - altar, ambão sacrário, pia batismal e nas imagens expostas ao culto. A imagem do Santo padroeiro talhado em mármore ficará na frontaria do templo, como se fosse num púlpito. Ele que durante a sua carreira mortal se habituou a falar às multidões na Praça pública e até falar aos peixes, quando os homens a não queriam ouvir. A sua presença ali será um sermão vivo a convidar os homens a entrar na Igreja de Deus e a serem mais irmãos uns dos outros.

Dentro do templo encontram-se expostas ao culto apenas duas imagens, aquelas que não podem faltar em igrejas nenhuma: A imagem de Cristo Nosso Senhor e Redentor e a imagem de sua mãe, a Virgem Maria. Esta sobriedade de imagens é um convite a uma purificação da fé. O culto do cristão não para na imagem, mesmo que esta fosse uma peça venerável, guardada de geração em geração, testemunha muda das lágrimas e das alegrias de quem rezou junto delas (como é, bem perto daqui, a imagem da nossa Senhora de Vagos), ou então uma imagem artística saída do cinzel de um santeiro de renome. Parar na imagem e esquecer que ela é apenas a ponte que torna presente aos sentidos a pessoa que ela representa seria voltar aos piores tempos da idolatria pagã.

Contíguo à Igreja como seu complemento, existe u amplo anexo com salas destinadas a catequese e reuniões de jovens e de adultos.

A pequena paróquia de Santo António de Vagos fica de hoje em diante, dotada de um complexo paroquial que fará a inveja de outras freguesias de maior população e de mais abastados recursos. Devo neste momento uma palavra de agradecimento e justificar de elogio à equipa que projetou a obra que Hoje inauguramos. A equipa foi o casal constituído pela arquiteta Senhora Dona Maria Adosinda Gamelas Albuquerque e pelo Senhor engenheiro Celso de Albuquerque. Como já tive ocasião de afirmar em circunstância análoga àquela em que hoje nos encontramos, os arquitetos são responsáveis pela genuinidade e profundidade da fé, daqueles que frequentam as obras por eles concebidas. Uma obra errada ou medíocre pode ser um veículo de uma fé superficial ou deformada. Não esqueço todos quantos aqui trabalharam e a quem se fica a dever a realização desta obra. Além dos operários chefiados com comprovada competência pelo Senhor Matos, é justo pôr em relevo os nomes dos empreiteiros Senhor Abel e Altino Ferreira da Silva, e ainda o senhor engenheiro Basílio da Rocha Martins, responsável pelo estudo da instalação elétrica.

Foi lenta a construção desta igreja. Entre a bênção da primeira pedra, realizada em Agosto de 1964 e a inauguração da obra, que hoje se efetua a mediaram quase 7 anos. Toda a gente sabe como tem escasseado ultimamente a mão-de-obra em todo o país. O que talvez nem toda a gente saiba é que o complexo paroquial que hoje se inaugura foi construído à custa das migalhas ajuntadas no fim de cada mês, ao canto da arca de cada uma das famílias desta Terra.


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