Igreja Paroquial de São Miguel de Soza

Século XII | XV-XVII

A igreja paroquial de Soza está identificada como igreja de Sanctus Michael de Soza desde 1229, sendo descrita no Rol das igrejas do bispado de Coimbra.

Tem a particularidade de ter tido dois padroados, um primeiro instituído à Ordem de Rocamador pelo rei D. Sacho I em 1193, confirmado por D. Afonso II em Coimbra, em 1218, e um segundo instituído por D. Afonso V à Ordem de São Tiago como Comenda perpétua da mesma, pela doação feita a João de Sousa, o Romanisco, que mais tarde, por descendência, passaria para administração da Casa de Lafões.

Foi a mais importante e rendosa igreja do concelho de Vagos, tendo sucessivas reedificações datando, a última, da segunda metade do século XVI, obras que terão terminado em 1693, pela data inscrita no coro alto interior. Conserva uma "imagem milagrosa de Cristo crucificado" em capela instituída pelo Padre Francisco de Pavia em 1629, data gravada no pedestal de uma coluna no interior. O primitivo retábulo da capela-mor, em calcário, seria trabalho da renascença Coimbrã, onde figuraria o relevo com a imagem de São Miguel, atualmente na fachada traseira da igreja. Do culto a Nossa Senhora de Rocamador subsistem duas imagens, uma gótica (século XIV) e outra renascentista (século XVI), ambas em calcário policromado, assim como uma imagem de Santa Luzia.

Em 1747 foi aplicado o retábulo em talha dourada da capela-mor e feita a imagem de São Miguel em barro policromado.

Em 1971, sofreu profunda obra de requalificação, com projeto da arquiteta Maria Adosinda Gamelas de Albuquerque de 1967, que encurtou a capela-mor, forrou as paredes da nave a azulejo e lhe fez desaparecer o património móvel integrado, retirando-se os cinco retábulos de talha dourada e apeando-se o púlpito, reconvertido em mesa de celebração no presbitério, obra que decorreu até 1974.

No largo fronteiro à traseira da igreja existe um cruzeiro-charola maneirista em pedra calcária datado de 1659, decorado na cúpula semicircular com símbolos da crucificação em tondos circulares, e de entablamento decorado com querubins em alto-relevo, resguardando a imagem policromada de Cristo crucificado. Este cruzeiro é conhecido como de Nossa Senhora dos Anjos (por ter existindo junto uma desaparecida capela desta invocação), ou de Maria Tomé, a encomendante do cruzeiro. Dele se contam duas hipóteses de voto: um, que Maria Tomé o construiu como agradecimento pelo milagre da Restauração da Independência de Portugal; outro, que Maria Tomé, vítima de uma epidemia, se levantou do esquife antes de ser sepultada na capela fronteira de Nossa Senhora dos Anjos.

O pedestal do cruzeiro tem inscrito: “Maria Thome mandov feazer esta charola por sva devasam 1659.”

A festa em honra de Nossa Senhora dos Anjos é celebrada no primeiro domingo de setembro e a festa em honra de São Miguel no último fim de semana de setembro.

Cronologia:

1088-01-11 – Soza é referida na doação de D. Sisnando Davides, alvazil de Coimbra, ao presbítero Rodrigo Hourigues, de uma ermida de São Cristóvão “inter uilla socia et uilla Iliauo”.

1193-10-15 – D. Sancho I faz doação da Vila de Soza aos freires da igreja de Santa Maria de Rocamador “Ecclesiae Sancta Mariae de Rupe Amatoris de Villa quae vocatur Socia et Fratribus ibidem”.

1209-03-00 – D. Sancho I isenta a Sé de Coimbra do pagamento anual de algumas igrejas em troca da igreja de Soza, que o rei dera à igreja de Rocamador

1255 – O rei D. Afonso III confirma a Fr. Hugo, prior de Soza da Ordem de Santa Maria de Rocamador, a herdade de Mamarrosa, que seu irmão o rei D. Sancho II lhe tinha dado.

1458 – Data apontada para a construção da igreja paroquial de Soza, mudando-se o órgão para esta igreja após a demolição do Convento de Rocamador.

1492-09-07 – O Papa Alexandre VI instituiu os bens e padroado da Igreja de São Miguel de Soza em Comenda de Santiago, incorporada nos bens da coroa, porém o Rei D. João II confirma a doação de Soza em 1481 a João de Sousa, o Romanisco, seu «dilectus filius» por especiais serviços prestados a seu pai, doação confirmada por e pela bula Rationi congruit, de 26 de agosto de 1496.

1514-02-16 – O rei D. Manuel I concede carta de Foral à Vila de Soza.

1721-05-17 – A igreja de Soza é descrita pela informação paroquial dada pelo reitor Simão Ferreira de Aguiar.

1747-09-08 – Aplicação do retábulo-mor feito à moderna e uma primorosa imagem do Arcanjo São Miguel para estar colocada no mesmo altar-mor, ordenado pela visitação ao reitor Tomé do Sacramento e Brito.

1758 – A igreja de Soza é descrita pela informação paroquial dada pelo reitor Tomé do Sacramento e Brito. Na nave existiam o altar do Santíssimo Sacramento, o altar de Santo António, o altar de Nossa Senhora do Rosário e o altar do Senhor Jesus.

1843-09-27 – Incêndio e ruína do palacete confinante com a igreja, onde viviam os donatários e reitor, existente onde hoje se prolonga o cemitério paroquial e que ligaria a tribuna interior na capela-mor.

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IPA.00026439 - Largo da Igreja

Portugal, Aveiro, Vagos, Soza

Hugo Calão, novembro de 2022


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