sexta-feira, 6 de outubro de 2023

A Festa de Santo António de Sandelgas (Vagos) em 1910

(in Jornal de Vagos, n.º577, 25 de junho 1910)

Santo Antonio: 

Realizou-se, como haviamos notíciado, a festa ao popular Santo taumaturgo português, na sua capela de Sandelgas. Visitámos a capela, que já não viamos há uns bons trinta anos, e ficamos bem impressionados com o seu aspecto, agora mais amplo e airoso, tendo os altares uma ornamentação de artistico efeito. Visitámos a sacristia aonde estava uma pequena imagem de Nossa Senhora, de primorosa escultura, carregada de ouro. Visitámos a casa das esmolas, aonde o pote de azeite estava cheio, o que prova que o Santo Antonio tem bastantes devotos que a ele recorrem nas horas angustiosas. A capela dá a ideia de uma pequena igreja paroquial, pois que até lhe não falta a respectiva cadeira colocada no logar próprio. O arraial estava pouco concorrido, não obstante a música da nossa terra, ali exibir as melhores peças do seu reportorio, e para a tardinha abrandado a temperatura, tornando agradavel o passeio ao arraial. 

Não assistimos á festa de igreja, o que nos impede de fazer o seu relato, mas consta-nos que a orquestra e vozes andaram muito bem, sendo auxiliadas por duas crianças filhas do sr. Dr. João d'Almeida e Silva, Neste dia realiza-se o tradicional jantar que, desde tempos antigos, a familia Domingues Ribeiro oferece ás pessoas de suas relações. O costume do jantar foi estabelecido por um padre, chamado o padre do Canto, um eclesiástico que viveu no lugar do Corgo do Seixo, no local chamado o Canto, e que para seu uso fez construir parte da capela de Santo Antonio, que hoje é a capela mor. Tendo estudado no convento de Santo António em Aveiro ordenou-se clérigo, e como não tinha capela no logar para celebrar missa, ía dize-la a São Romão que lhe ficava distante, e foi esse o motivo por que mandou construir a capela referida. Para isso comprou por trinta mil reis o terreno a um homem de apelido Sandelgas, que lhe ofereceu uma imagem do convento deste lugar, e daí o título que se dá ao Santo António. 

Atualmente o padre do Canto é representado pelo sr. Manuel Domingues Ribeiro, que continua as tradições da casa, oferecendo todos os anos aos seus amigos um jantar de festa, o qual sai das normas da maior parte dos jantares da aldeia, pois que é de uma confeção distinta e variada, e este ano sob a direção do seu simpático neto, Artur Sérgio, com um menu muito primoroso. Ora pois de tradições também vive o homem, e as tradições familiares têm um cunho de afeto que muito agrada. 

Também se festejou o Santo António da Quinta, em Vagos, que tem o seu nicho às portas do palacete do Visconde de Valdemouro, e que teve a sua costumada véspera, e o caseiro, o nosso amigo José Tomás de Abreu, enfeitou o nicho com bandeiras, festões e outros ornatos. O sentimento religioso e devoção ao Santo António, vive ainda muito arreigado no coração.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Sagração da Igreja de Santo António de Vagos

 in jornal Correio do Vouga de 18 de Junho de 1971, n° 2051

Santo António de Vagos

Esta Igreja está construída para durar séculos. Oxalá que as gerações que vieram depois sejam dignas da geração que lhes tão eloquente, testemunho de fé e de União fraterna de uns com os outros - afirmou o Bispo de Aveiro na Sagração do novo templo.

Hoje é dia de festa em Santo António de Vagos, a freguesia criada pelo meu saudoso antecessor Dom João Evangelista de Lima Vidal e desmembrada da de Vagos em 1956. Ficou desde então a servir de igreja paroquial a modesta acanhada capela, que hoje já não existe. Na sua vez e em parte no mesmo lugar em que se encontrava implementada a velha capela, foi erguida pelo povo desta freguesia a igreja paroquial, que hoje inauguramos pela Sagração litúrgica do altar e do espaço sagrado que o fica a envolver.

Características da nova igreja:

A Igreja que hoje inauguramos pode ser definida com três adjetivos: bela, sóbria e funcional.

Concebida segundo os cânones clássicos da arquitetura dos templos sagrados há nas suas linhas, harmonia, dignidade, equilíbrio.

É bela! É só sóbria também como convém à maneira de sentir da gente de hoje. Sóbria na decoração, no desenho das peças sagradas - altar, ambão sacrário, pia batismal e nas imagens expostas ao culto. A imagem do Santo padroeiro talhado em mármore ficará na frontaria do templo, como se fosse num púlpito. Ele que durante a sua carreira mortal se habituou a falar às multidões na Praça pública e até falar aos peixes, quando os homens a não queriam ouvir. A sua presença ali será um sermão vivo a convidar os homens a entrar na Igreja de Deus e a serem mais irmãos uns dos outros.

Dentro do templo encontram-se expostas ao culto apenas duas imagens, aquelas que não podem faltar em igrejas nenhuma: A imagem de Cristo Nosso Senhor e Redentor e a imagem de sua mãe, a Virgem Maria. Esta sobriedade de imagens é um convite a uma purificação da fé. O culto do cristão não para na imagem, mesmo que esta fosse uma peça venerável, guardada de geração em geração, testemunha muda das lágrimas e das alegrias de quem rezou junto delas (como é, bem perto daqui, a imagem da nossa Senhora de Vagos), ou então uma imagem artística saída do cinzel de um santeiro de renome. Parar na imagem e esquecer que ela é apenas a ponte que torna presente aos sentidos a pessoa que ela representa seria voltar aos piores tempos da idolatria pagã.

Contíguo à Igreja como seu complemento, existe u amplo anexo com salas destinadas a catequese e reuniões de jovens e de adultos.

A pequena paróquia de Santo António de Vagos fica de hoje em diante, dotada de um complexo paroquial que fará a inveja de outras freguesias de maior população e de mais abastados recursos. Devo neste momento uma palavra de agradecimento e justificar de elogio à equipa que projetou a obra que Hoje inauguramos. A equipa foi o casal constituído pela arquiteta Senhora Dona Maria Adosinda Gamelas Albuquerque e pelo Senhor engenheiro Celso de Albuquerque. Como já tive ocasião de afirmar em circunstância análoga àquela em que hoje nos encontramos, os arquitetos são responsáveis pela genuinidade e profundidade da fé, daqueles que frequentam as obras por eles concebidas. Uma obra errada ou medíocre pode ser um veículo de uma fé superficial ou deformada. Não esqueço todos quantos aqui trabalharam e a quem se fica a dever a realização desta obra. Além dos operários chefiados com comprovada competência pelo Senhor Matos, é justo pôr em relevo os nomes dos empreiteiros Senhor Abel e Altino Ferreira da Silva, e ainda o senhor engenheiro Basílio da Rocha Martins, responsável pelo estudo da instalação elétrica.

Foi lenta a construção desta igreja. Entre a bênção da primeira pedra, realizada em Agosto de 1964 e a inauguração da obra, que hoje se efetua a mediaram quase 7 anos. Toda a gente sabe como tem escasseado ultimamente a mão-de-obra em todo o país. O que talvez nem toda a gente saiba é que o complexo paroquial que hoje se inaugura foi construído à custa das migalhas ajuntadas no fim de cada mês, ao canto da arca de cada uma das famílias desta Terra.


Sagração da Igreja paroquial de Calvão 22 Setembro 1974

 in jornal Correio do Vouga, n° 2213



Ponte de Vagos em 1974

 In Correio do Vouga, 18 Outubro 1974  n°2217



segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Nossa Senhora de Vagos

 

(in jornal 'O Ilhavense' de 8 de Junho 1943)

NOSSA SENHORA DE VAGOS - Realizam-se nos djas 12, 14 e 15 do corrente e com a assistência das musicas da Vista Alegre e Vagos, os festejos anuais em honra da Nossa Senhora de Vagos, padroeira deste concelho e com fervorosos crentes em terras distantes desta vila. Foi no alvorecer da nossa nacionalidade. Furioso temporal teria assolado a nossa costa marítima e um barco francês, que na altura passava em frente à Vagueira, teria sido destruído e a sua tripulação teria perecido no naufrágio, salvando-se apenas o capitão do navio e uma imagem, por ele venerada. Ali se quedou no areal, nunca abandonando  a imagem sagrada, até que a morte veio ao seu encontro. Entretanto uma seca persistente ameaçava os povos desta região com a perspectiva trágica de um ano de fome. Os povos vizinhos mais atingidos pela seca dirigiam constantes súplicas a Deus e um dia ouviram o som distante duma campainha, como que a chamá-los. Percorridas algumas léguas, sempre pelo areal escaldante, lá foram topar a imagem veneranda, encoberta pelas silvas. Diz a lenda que logo chuvas abundantes caíram do céu, levantando-lhe, depois uma ermida esse bom povo que acreditou no milagre. Como então, a mesma fé anima hoje alguns milhares de almas simples que todos os anos se reúnem no arraial que circunda a ermida, um aprazível e bucólico recanto dos mais belos desta linda terra.


CRUZEIRO À NOSSA SENHORA DE VAGOS - Em Cantanhede, inaugurou-se, no domingo, dia 28 de Maio, um cruzeiro, em homenagem à padroeira deste concelho e que se deve ao grande amigo de Vagos - nunca é demais dizê-lo—sr. Paulo Gaspar, que abriu uma subscrição entre os devotos da milagrosa santa. É mais um elo a juntar à extensa cadeia que há muitos anos prende os dois concelhos.

amigos.—C.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Vigia e Vergas Terras de Fé e Tradições

 

Basílio de Oliveira, 2007

Informa que o lugar de Vergas já era mencionado em 1200, pertencente ao Couto de São Romão, que constava de dez casais, três quintas e que englobava os lugares da Quintã, Cabecinhas, Parada de Cima, Ervedal, Trás da Moita, Vergas, Ponte de Vagos, Sanchequias, São Romão e Santo André, citando a Chorogragia do Pe Carvalho da Costa.

Faz biografia do Pe Manuel de Oliveira Júnior (1878-1970), primeiro pároco de Santo André de Vagos, presidente e vice-presidente da Câmara Municipal de Vagos.